terça-feira, março 11, 2014

[CRÍTICA] 300: Ascensão De Um Império (300: Rise Of An Empire, 2014)

Trailer de 300: Rise Of An Empire

A ganância de Hollywood em embarcar no sucesso de 300 (300, 2006), de Zack Snyder, já havia sido commprovada com o infame e carnavalesco Immortals (Imortais, 2011), entre outras pérolas de inspiração mais sutil. 300: Ascension Of An Empire é mais uma nova tentativa de resgatar tal sucesso. Desta vez, Noam Murro, assessorado por Snyder e Frank Miller (criador das HQs que deram origem à franquia: 300 e Xerxes - esta última ainda a ser publicada), tenta abrir uma nova franquia cinematográfica e falha neste primeiro trabalho de grande porte.

A história baseia-se nos acontecimentos prévios, simultâneos e pós-Termópilas, onde o general ateniense Termístocles (Sullivan Stapleton), enfrenta as forças invasoras do Império Aquemênida de Xerxes I (Rodrigo Santoro), lideradas pela vingativa Artemísia (Eva Green).

Desde o início da película, é óbvia a intenção de Murro em seguir o estilo de seu antecessor, marcado principalmente pelo combinado entre as câmeras lenta e acelerada. Na primeira meia-hora de filme, ele se sai bem (como a bela sequência da Batalha de Maratona), mas perde o controle no restante do filme. O impacto das cenas em slow motion torna-se um recurso randômico e desesperado que não empolga e cansa o telespectador.

O desenvolvimento de Xerxes pelo roteiro é interessante, porém se torna desnecessário com o abandono da personagem ao longo do restante do filme. O destino pífio de Scyllias (Callan Mulvey) nos faz questionar: "Por quê não Temístocles?". A ansiedade em tentar repetir o sucesso de 300 "ressuscita" personagens desnecessários, encaixados na trama de maneira frágil e superficial. Entretanto, como não se pode questionar o talento de Snyder e Miller, não fica claro se fora um lapso de criatividade, preguiça ou falta de fé no projeto (e eu votaria neste último).

Para compensar esta despreocupação por parte dos roteiristas, Murro utiliza-se de clichês que insultam a inteligência do público. A sequência da Batalha de Maratona comprova a relevância do elmo usado por Temístocles, salvando-lhe a vida por pelo menos duas vezes. Para, logo depois, o próprio retirar o elmo no meio da batalha e sem motivo algum, para apenas apresentar a face do protagonista ao público. Assim como Artemísia, a vilã, passa todo o longa-metragem procurando um líder digno de comandar o seu exército, que somente ela seria capaz de liderar. Para, ao final, atirar-se em meio à batalha, colocando em risco a invasão ao deixar toda a sua frota sem um comandante apto. E há mais: a embarcação de óleo que explode como pólvora, a pintura de guerra (eles são gregos ou tribos africanas? Ou ameríndios primitivos? Fala sério, né...) de Calisto (Jack O'Connel), etc...

Os diálogos são rasos. Os discursos não convencem ninguém. As frases de impacto são extremamente forçadas e fracas. Stapleton até se esforça, mas falta-lhe o carisma de Gerard Butler para carregar o filme como protagonista. Green, com bastante espaço, destaca-se, apesar de um pouco caricatural. A impressão final é que nem os próprios atores levaram o filme à sério. Já os efeitos visuais em 3D funcionam bem, trazendo profundidade e realidade às batalhas, e são competentes (apesar da irrealidade do sangue digital que jorra na telona ter me incomodado bastante) ao tentar manter a mesma atmosfera de seu antecessor.

Enfim, 300: Rise Of An Empire não passa de uma encheção de linguiça que culminou numa mistura de Troy (Tróia, 2004) com Immortals (Imortais, 2011). Um resultado inidvidual ainda melhor que os previamente citados (o que não seria muito difícil de realizar), mas que não sentiríamos nenhuma falta se Leônidas tivesse chutado para o fundo do poço...

Daniel Lima

sexta-feira, junho 15, 2012

[CRÍTICA] Prometheus (Prometheus, 2012)

Trailer de Prometheus

O nome já diz tudo. Prometeu, na mitologia grega, foi um defensor da humanidade, que roubou o fogo dos deuses e deu-o aos mortais. Uma excelente metáfora para uma nave que parte em busca de conhecer a origem da humanidade, supostamente localizada em um planeta distante. O que todos esquecem, entretanto, foi a punição que o titã sofreu por tamanha ousadia: ser amarrado em uma rocha e ter seu fígado comido, eternamente, por uma águia. Prometheus, nova obra de Ridley Scott, apenas nos presenteará. Já a nave homônima presente na película...

A trama se baseia em uma missão espacial a um planeta desconhecido, após uma série de descobertas arqueológicas que indicam uma espécie de mapa estelar. Ao encontrar seu destino, porém, a tripulação descobre que precisa se preocupar mais com o futuro da humanidade do que com seu passado.

Com base em questões e mistérios filosóficos que desde sempre intrigaram a humanidade, Scott constrói uma rede de perguntas para aguçar a curiosidade do telespectador e afastá-lo da esperança de um mero remake ou prelúdio de Alien (Alien – O 8º Passageiro, 1979). Nada é respondido e é nisso que reside o brilhantismo de Prometheus. Muitos se decepcionarão por não encontrar respostas. Mas por quê deveríamos? Porquê as evidências arqueológicas formam um mapa e, nas palavras da Dra. Elizabeth Shaw (Noomi Rapace), um convite? E se ela estivesse errada? Não seria apenas realista assumir que existe a possibilidade de que, por mais que nos esforcemos, não consigamos resposta nenhuma? É disso que Prometheus trata: ingenuidade versus arrogância. A ingenuidade de acreditarmos que há uma resposta para tudo e a arrogância de que merecemos esta resposta. É nesta hora que percebemos o quão o andróide David (Michael Fassbender) está certo ao se vangloriar por não poder sentir decepção.

Com eficiência, nos vemos perdido em um planeta distante, com mais curiosidade do que medo, até que a atmosfera muda lentamente para o desespero e terror. Há cenas antológicas e belíssimas onde imperam o gore, as gosmas e os efeitos surpreendentes (a cena do parto é sensacional!). A ambientação é de tirar o fôlego e o visual é bem mais clean que o original. É difícil entender, porém, como Scott, que se empenhou tanto para entregar um filme inteligente, pôde aceitar as frases-explicativas-óbvias tão temidas em roteiros deste tipo, como a da personagem de Charlize Theron, ao acompanhar de Prometheus David à uma nova câmara inexplorada no complexo existente no planeta: "He cut me off!". Desnecessário.

O roteiro possui alguns erros de descontinuidade e alguns buracos, mas que são esquecidos pelo ritmo incessante e envolvente da direção. Como em Lost (adivinha que é um dos autores do roteiro?), não há respostas para tudo, mas responde-se a algumas perguntas do primeiro Alien. O Space Jockey deixa de ser um enigma e o desenvolvimento da história se aproxima vagarosamente da atmosfera Alien, para deleite dos fãs. A última cena é uma homenagem previsível, mas bem-vinda.

Fassbender e Rapace estão geniais e ofuscam qualquer outro membro da tripulação. Tripulação esta que é um dos grandes defeitos do filme; afinal, 17 membros são personagens coadjuvantes demais até mesmo para uma minissérie. Ficam sub-aproveitadas especialmente as personagens de Theron, Idris Elba e Guy Pearce.

Para finalizar e apesar dos defeitos, Prometheus é uma excelente obra de resgate da quadrilogia alienígena, que se atolou num mar de lama. O Oitavo Passageiro continua sendo a obra-prima, mas este chega bem perto: é uma homenagem à altura do clássico de 79. Afinal, jamais haverá Predador, ou James Cameron, ou Dan Aykroyd, capaz de competir com o melhor alienígena de cabeça cônica!

Daniel Lima

quinta-feira, junho 14, 2012

[CRÍTICA] Poder Sem Limites (Chronicle, 2012)

Trailer de Poder Sem Limites

Particularmente, eu sempre refutei a grande máxima do Tio Ben: “Grandes poderes trazem grandes responsabilidades.” Chronicle, de Josh Trank, veio para me apoiar em tal contestação e mostrar ao Spidey que ele poderia ter tido outras opções. Algumas mais divertidas, outras mais psicopáticas; entretanto, Trank soube muito bem como tratá-las em seu primeiro trabalho no cinema.

Como sinopse, temos três adolescentes, Andrew (Dane DeHaan), Matt (Alex Russell) e Steve (Michael B. Jordan), que descobrem um artefato misterioso e ganham poderes telecinéticos da noite para o dia. Ao desenvolverem seus poderes, eles se desentendem, à medida que cada um tem de lidar com suas próprias ambições e conflitos interiores.

A estética é a mesma que ficou famosa em The Blair Witch Project (A Bruxa De Blair, 1999): câmera tremida nas mãos dos próprios atores, cortes bruscos e interferências. Provavelmente escolhida para se encaixar em um baixo orçamento, fica claro ao final do filme que valeu a pena. Além disso, traz um tom mais inovador, imersivo e realista à história e ao drama dos protagonistas, curiosamente estereotipados (como em qualquer filme high-school norte-americano), porém sem se tornar caricaturais.

Em diversas cenas, são abordados a imaturidade dos protagonistas e o dilema que consiste em o que fazer com tanto poder. No entanto, o único que parece fazer algum progresso é Andrew, uma mistura de Magneto com Tetsuo, e sua teoria sobre o apex predator (ou homo superior). Já os principais defeitos do filme são a previsibilidade e o foco excessivo em Andrew. Acho que Matt e Steve poderiam ter sido personagens mais desenvolvidas. Por exemplo, ao final, é mais fácil justificar os erros de Andrew devido ao seu passado, do que apoiar Matt em sua defesa ao coletivo ou “bem cristão”.

O filme é despretensioso, simples, e com belas tomadas. O duelo final, entretanto é homérico: deixará qualquer fã de anime boquiaberto... Após o fiasco Dragonball Evolution (Dragonball Evolution, 2009), Chronicle veio para se enfiar no meio de Akira (Akira, 1988) e as duas partes de seu futuro remake já anunciado. E o melhor: não faz feio não! Espero que fique aqui a dica para a Warner Bros!

Enfim, de qualquer forma, grande estréia para Trank, que prova que não precisa de centenas de milhões de dólares para realizar um filme inteligente e divertido sobre super-heróis. Demolidor, Motoqueiro-Fantasma, Quarteto Fantástico, Hulk, Constantine, Spawn e Wolverine (e outros!) devem está se remoendo em seus gibis: heróis de grande poder e renome, mas com películas extremamente inferiores às dos desconhecidos e telecinéticos Andrew, Matt e Steve!

Daniel Lima

segunda-feira, junho 11, 2012

[CRÍTICA] O Ditador (The Dictator, 2012)

 Trailer de O Ditador

Sacha Baron Cohen consagrou o pastelão politicamente incorreto através de mockumentários (documentários com o propósito de tirar sarro), estilo marcante em Borat: Cultural Learnings Of America For Make Benefit Glorious Nation Of Kazakhstan (Borat: O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja À América, 2006) e Brüno (Bruno, 2009). Aqui, em The Dictator, porém, ele abandona este estilo e realiza seu primeiro filme comercial. Apesar disso, Cohen mostra que seu humor continua afiado (apesar de um pouco mais contido) e arranca gargalhadas a cada piada com sua nova personagem: o General Aladeen.

A trama acompanha o Supremo Líder General Aladeen (Sacha Baron Cohen) do fictício reino árabe Wadiya, à medida que ele tenta construir uma arma nuclear. Embargado pela desconfiança da ONU, ele se vê obrigado a realizar um discurso em solo americano, para enganar as outras nações. Lá, ele se torna vítima de um golpe de seu braço-direito Tamir (Ben Kingsley), que pretende transformar Wadiya numa democracia e "vendê-la" para seus sócios capitalistas.

Como já era de se esperar, a película é repleta de críticas à democracia, à maneira como ela existe hoje, e de referências à cultura ocidental, desde Hollywood a Justin Bieber. As cenas de Aladeen trabalhando como empregado do mercado são hilárias. Mas, transformar o mercado em uma pequena ditadura realmente é uma sacada genial. Isso sem contar a cena do helicóptero, com diálogos sensacionais. É de chorar de rir.

Finalmente, Cohen volta à velha forma que o consagrou há seis anos. Com sua canastrice e “ingenuidade”, eleva o humor negro ao melhor estilo de humor que se pode encontrar atualmente, em um mundo tão hipócrita e velado. Desta vez, porém, ele está cercado de um elenco de peso, garantindo qualidade ao restante das cenas, com Kingsley, Anna Faris e John C. Reilly. Apesar disso, Cohen se destaca em todas as cenas e leva o filme nas costas, mas, de todos, Jason Mantzoukas é quem consegue se sobressair melhor com ele por perto.

Enfim, Larry Charles faz o feijão com arroz e deixa quase tudo nas mãos de Cohen, o que mais uma vez se mostra uma decisão acertada. Assim, temos outra personagem impagável de um dos melhores humoristas da atualidade. E mais: um filme que, apesar de comercial, não parece ter a idéia de agradar a maioria, mas sim apenas os fãs do humor ácido e contundente de Cohen. E é melhor você rir, caso contrário, corre sério risco de que sua cabeça seja a próxima a rolar.

Daniel Lima

domingo, junho 10, 2012

[CRÍTICA] John Carter - Entre Dois Mundos (John Carter, 2012)


Trailer de John Carter - Entre Dois Mundos

Desde o alarde que Pirates Of The Caribbean: The Curse Of The Black Pearl (Piratas Do Caribe – A Maldição Do Pérola Negra, 2003) causou nos cofres hollywoodianos, a Walt Disney Pictures está flertando com o combinado entre ficção-fantasia, em busca da oportunidade de copiar uma das mais bem sucedidas trilogias (em bilheterias) de todos os tempos. The Chronicles Of Narnia: The Lion, The Witch And The Wardrobe (As Crônicas de Nárnia: O Leão, A Feiticeira E O Guarda-roupa, 2005), Prince Of Persia: The Sands Of Time (Príncipe Da Pérsia – As Areias Do Tempo, 2010) e The Sorcerer’s Apprentice (O Aprendiz De Feiticeiro, 2010) foram exemplos óbvios destas tentativas, mas que (apesar de algumas continuações insistentes) fracassaram. Até Tron (Tron – Uma Odisséia Eletrônica, 1982), seu clássico oitentista sofreu uma (pífia!) tentativa de reboot, tamanha é a sede disneyana de conseguir uma nova franquia rentável como os caribenhos foras-da-lei. Enfim, John Carter é mais uma de suas tentativas. Uma cara e inexplicavelmente ruim tentativa.

Baseado na personagem criada por Edgar Rice Burroughs (mais famoso como o criador de Tarzan), em 1912, o filme conta a história de John Carter (Taylor Kitsch), veterano da Guerra Civil Americana que é misteriosamente transportado para Marte. Agora, ele deve adaptar-se ao novo planeta, enquanto tenta sobreviver a uma tribo de bárbaros (os tharks) e salvar Dejah (Lynn Collins), a princesa de uma cidade prestes a ser massacrada.

O roteiro é fraco, com coincidências demais e repleto de clichês. Há a cena da arena de Star Wars: Episode II – The Attack Of The Clones (Star Wars: Episódio II – Ataque Dos Clones, 2002), com mais e melhores efeitos (mas muito, muito menos criativa!), a ambientação de Dune (Duna, 1984), o figurino mix de Spartacus (Spartacus, 1960) e Barbarella (Barbarella, 1968), o romance batido entre mocinha e herói, que mesmo assim funcionou tão bem em Avatar (Avatar, 2009), etc.  Como se pode ver, várias referências foram citadas até agora. E nada, absolutamente nada disso funciona em John Carter.

Porém, o maior ponto fraco da película é mesmo John Carter. O protagonista é mal apresentado e pobremente construído. A “bravura” que se tenta mostrar no início é risível e Carter se comporta mais como um cachorro estúpido e irracional que tenta morder a mão de seu dono. O roteiro ainda apresenta algumas tentativas de se redimir e desenvolver a personagem principal, como a bela (e curta!) cena de batalha e de seu passado. No entanto, fica por aí. O protagonista continua tão burro que o final se torna inaceitável. É como se o Conan engendrasse um plano à la Prof. Moriarty. Além disso, não há motivação para o herói; não há carisma para sua liderança; não há explicações razoáveis para nada na trama (além das sacais coincidências). O romance “instantaneamente” brotado entre ele e a princess of Mars é forçado demais para mover uma guerra sozinho.  Nada convence (exceto a raça marciana thark, mas isso é graças aos efeitos visuais). Entretanto, nada disso é culpa de Kitsch, que, com sua inexperiência e falta de talento, não pode fazer muita coisa pra reverter o quadro.

A fotografia e a trilha sonora se salvam. A raça marciana thark é convincente e as cenas de ação bem feitas, porém sem que nada novo seja introduzido. As atuações em geral são fracas, salvando-se apenas Mark Strong, como o vilanesco Matai Shang. É um projeto que parece ter consumido recursos altíssimos com a intenção de se tornar um grande épico, mas, em termos de comparações, está mais para um Waterworld (Waterworld - O Segredo Das Águas, 1995) do século XXI.

Enfim, a primeira “aventura” de Andrew Stanton, consagrado por suas animações Finding Nemo (Procurando Nemo, 2003) e Wall-E (Wall-E, 2008), no terreno dos live-action não poderia ter sido mais desastrosa. Um filme ruim e justamente mal recebido pelo público que só nos deixa a indignação: o que foi feito com tanto dinheiro?

Daniel Lima